Futebol Formação - Futebol Inteligente

Para quem acredita que jogar bem é jogar com a cabeça

2006-12-06

Técnico-Táctico ou Táctico-Técnico?

Ora aqui está um dos grandes chavões do futebol – Técnico-táctica.

Normalmente aplicado para caracterizar a qualidade de um jogador pelos comentadores da nossa praça, é usado pelos estudiosos para falar de acções, tanto individuais como colectivas, realizadas pelos jogadores.

E porquê abordar hoje este tema? Primeiro porque um colega meu se encontra actualmente a trabalhar numa academia onde usam qualquer coisa parecida com o método Coerver, para trabalho da técnica individual – algo que vai contra a sua (e a minha) maneira de entender todo o processo de formação; Segundo porque deixei uma questão no meu último post – Estarão os treinadores habituados a pensar os exercícios em especificidade?

Assim, começo mesmo por questionar – será mais correcto falarmos de acções técnico-tácticas, ou de acções táctico-técnicas? – A pergunta no fundo será – o que existe primeiro? Uma acção técnica ou uma acção táctica?

Na minha opinião, a expressão correcta, dentro deste contexto e ainda que menos utilizada, será acções táctico-técnicas. A razão é simples – a técnica não faz sentido se não dentro de um contexto táctico. E qualquer acção técnica é sempre precedida por uma acção táctica.

Tentando passar isto para um contexto mais prático – Um passe, num exercício de 3x3, por exemplo, só acontece porque antes, o jogador com bola, olhou para o jogo, analisou o posicionamento dos colegas e adversários, as suas acções, e tomou uma decisão. Esta decisão que ele toma é táctica! Apenas a resposta pode ser uma acção técnica. Mas será sempre um produto, algo que surge à posteriori de todo um complexo processo de análise e de tomada de decisão. Daí a escolha por táctico-técnica.

Assim, de que serve ensinar os jogadores a maneira de realizar um passe, quando o importante no jogo será tudo aquilo que está antes do passe? Todo o processo de análise e de tomada de decisão. Quando o que importa não é o como, mas sim o quando e o porquê.

Por tudo isto, devo confessar-me pouco crente em todas as metodologias que têm por base aquilo que é a técnica individual, sendo a mais conhecida de todas a de Coerver. Concordo que o trabalho de técnica individual seja importante, principalmente e fundamentalmente nos escalões mais baixos, mas acho que o ensino do jogo, e da sua dimensão táctica, devem começar o mais precocemente possível.

Voltando à minha questão do último post, acerca da capacidade dos treinadores criarem exercícios em especificidade, e englobando toda a anterior problemática das acções táctico-técnicas, levanto mais um problema – Porquê passar treinos a corrigir as acções técnicas dos nossos atletas? Porquê dar mais atenção ao produto do que à globalidade da acção? Será que um golo marcado com a biqueira da bota tem menos valor do que um com o peito do pé? Não me parece…

Por último a grande questão, em jeito de desabafo… Será que nos podemos dar ao luxo de perder tempo com um exagero de trabalho técnico (e por consequência menos especifico…), ou estaremos a colocar em causa todo o desenvolvimento e potenciação dos nossos atletas?


Hugo Alexandre Folgado

4 Comments:

  • At 5:15 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Obrigado amigo pelas tuas palavras!
    Como elas me consolam...sinto-me menos só neste contextozinho da formação da pior associação de futebol distrital do país...
    Abraço

     
  • At 1:42 da tarde, Blogger Tozé said…

    Concordo plenamenta com a aborgem á nomenclatura usada para caractrizar o que realmente se passa no contexto do futebol. Estas falhas acontecem, porque as pessoas que comentam, analisam o futebol são pessoas que não tem uma formação adequada para fazerem essas mesmas análises.

    Em relação ao trabalhar com exercicios especificos, que condicionem o futebolista a estar constantemente a pensar como irá por exemplo fazer o passe, porque a posição dos colegas, bem como dos adversários poderá em constante mudança, o que leva a que tomada de decisão seja sempre adaptada (ou seja a forma como é efectuado o passe: direcção, intensidade, velocidade).

    Porque é que os profissionais não procuram nos seus treinos exercicios especificos?

    Na minha opinião, para definir exercicios especificos, é necessário sistematizar processos de jogo em função da colocação dos jogadores no espaço de jogo, e da tarefa que cada um tem que desempenhar nas diferentes situações de jogo. Depois de definido estes processos, referencia-se as prioridades a treinar e procura-se que os exercicios de treinar solicitem que os jogadores compreendam o que fazer nos diferentes contextos de jogo.

    Ou seja, quando se define o que se quer conseguimos avaliar se os exercicios especificos elaborados estam ir de acordo ao previsto, se não, procura-se alterar.

    Quando não se sabe bem o que se quer, procura-se nos livros dos 1000 exercicios de futebol, escolhe-se uns quantos e aplica-se e procura-se que os jogadores evoluam de uma forma "natural".

    Saudações

     
  • At 5:52 da tarde, Anonymous EDMILSON said…

    Professor HUGO, estava a pesquisar um apoio para o meu relatório de futebol, acabei por ler este texto, automaticamente lembrei que já tinha escutado essa frase na sala de aula, "a tecnica não faz sentido se não dentro de um contexto táctico."
    Quando cheguei ao fim do texto tinha la a sua rubrica: HUGO FOLGADO. ADMIRO MUITO VOCÊ PROFESSOR.OBRIGADO PELO APOIO E PELA DIVULGAÇÃO. EFD UÉ.

     
  • At 4:27 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Se não sei o que fazer como o vou fazer?

     

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