Futebol Formação - Futebol Inteligente

Para quem acredita que jogar bem é jogar com a cabeça

2008-03-12

O trabalho dos "skills" no futebol

O trabalho de "skills" motores, ou se quiserem técnica individual, é algo que sempre foi apontado como importante ser desenvolvido nos escalões de formação base. Ainda no outro dia um colega me falava do trabalho desenvolvido por Coerver e da aplicabilidade que isso terá na nossa formação.

Honestamente, e apesar de não duvidar da importância que a variabilidade de recursos tem, cada vez menos acredito nesta separação daquilo que é o trabalho da técnica individual sobre o ensino do jogo, e quem acompanha o blog facilmente compreende isso mesmo.

Sempre achei que usar tempo para algo que não estivesse relacionado com o ensino do jogo, com os princípios que o caracterizam e com a sua complexidade e dinâmica natural é perder tempo na potenciação dos nossos atletas.

Por isso nunca ensinei o "como" passar, mas o "porquê" passar. Nunca ensinei o "como" rematar, mas o "quando" rematar. E ainda hoje comentava com um colega que em 3 anos que tenho como treinador de alguns atletas, não me recordo de alguma vez ter corrigido ou dado um feedback sobre qual a parte do pé que contacta na bola no momento do passe, por exemplo.

Muitos podem achar que isto vai promover jogadores que não possuem uma técnica de remate ou passe "correcta", mas o que é facto é que não encontro diferenças significativas nestes particulares para as restantes equipas do mesmo escalão.

Serve esta introdução como base para apresentar um livro que ando a ler ultimamente - Attention and Motor Skill Learning de Gabriele Wulf (2007, Human Kinetics).

O que esta Senhora diz, e prova (apesar de eu ainda não ter lido tudo) é que uma aprendizagem de skills motores onde a atenção está focalizada em factores externos (isto é, naquilo que acontece devido à acção motora) é mais rápida e forte do que aquela baseada em factores interno (como coloco o corpo para realizar a acção motora).
Que grande quebra com o tradicional, com o que é hábito! "Então agora não ensinar os jogadores a baixar o corpo quando rematam vai fazer com que eles rematem melhor?" - Pois é, parece mesmo que é verdade.

Para quem trabalha com um paradigma de formação baseado na variabilidade não vai ter problemas de adaptação a estes novos dados. No fundo é aquilo que se faz, ao ensinar o "porquê" em vez do "como" estamos a focalizar a acção de um jogador num factor externo.

Óbvio que tudo isto terá excepções nos momentos iniciais de aprendizagem... As mesmas também são referidas nos estudos, com uma aprendizagem da técnica nova a ser mais rápida inicialmente se o foco atencional for interno. O que referem também é que apesar de mais lenta, a aprendizagem com focos atencionais externos é mais potente.

No fundo, o que eu retiro de tudo isto é que um trabalho de formação baseado no ensino do jogo, para além de criar jogadores mais inteligente e mais rápidos a decidir, vai ainda potenciar a sua aprendizagem de "skills" motores, tornando-os em jogadores com mais recursos "técnicos".

Concordam? O que vos diz a vossa experiência?

Cumprimentos

5 Comments:

  • At 12:55 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Apesar de trabalhar num desporto diferente, em que a técnica individual é fundamental para o próprio desenrolar do jogo, vou tentar comentar este tema, se disser alguma barbaridade diz-me...
    Eu vejo a aprendizagem dos skills como fundamental para qualquer desporto, mas não sou um purista da técnica. Acho que o ensino da técnica individual não deve ser isolado do contexto do jogo. Por exemplo, "quando passar"+"como passar" ou seja, se sabe quando deve passar devemos fornecer-lhe a informação de como o deve fazer correctamente, não limitando, como é óbvio, a "criatividade" do jogador.(Não sei se me fiz entender muito bem...)
    Acho que devemos encontrar sempre um equilíbrio entre a técnica e a táctica individual, etre o "como" e o "quando".
    Esta opinião está, logicamente influenciada pelo desporto em que trabalho, que é o voleibol.

    Um Grande Abraço

    Filipe Carrasco Soares

     
  • At 8:38 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    http://futebolmodelovitoria.blogspot.com/

     
  • At 12:40 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    garcia essa cabeça tá cada vezmais atrofiada mano...

     
  • At 1:13 da manhã, Blogger Administrador said…

    Técnica e Táctica, a meu ver, são um e um só... Não faz sentido trabalhar os skills sem ser trabalhado o domínio cognitivo do jogo. Contudo, o treino mão deve ser só táctico, da mesma forma que não pode ser só técnico. Pode surgir a dúvida: "OK, eu decidi bem durante o treino todo, contudo a bola nunca foi à baliza", e aqui a questão é mesmo técnica. E há que dar, nessa altura, o feedback para o aspecto técnico, sempre reforçando a questão da decisão.

     
  • At 12:15 da manhã, Blogger Rodolfo said…

    No que diz respeito aos "skills" no futebol, nomeadamente no treino com jovens, sou da opinião que eles não devem ser dissociados da realidade do jogo, pois é neste contexto que o atleta os vai aplicar. Contudo poderá haver lugar na sessão de treino para uma aprendizagem mais analítica, principalmente no périodo preparatório da sessão (aquecimento), onde se poderá ter um controlo maior do movimento e garantir um maior sucesso nos feedbacks fornecidos. Julgo que nesta aprendizagem dos "skills", é muito importante estar atento à tomada de decisão( não obrigando o atleta a fazer o que nós queremos, mas fornecendo-lhes mais opções para além da utilizada)dos jogadores não a "castrando" com sucessivas paragens para correcção dos movimentos.

     

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